Lygia Pimentel é diretora executiva da Agrifatto

Yago Travagini Ferreira é economista e consultor pela Agrifatto

 

A sazonalidade é fator de boa influência sobre as cotações e auxilia na tomada de decisão, mas seu comportamento tem mudado em resposta ao avanço tecnológico da atividade pecuária. Milho safrinha, investimento em pastagem e suplementação já começam a mostrar seus efeitos sobre as tendências.

Analisando o histórico de preços mais antigo do boi gordo em SP, nota-se que as cotações começam a cair a partir de dezembro e seguem em queda até maio, quando a safra paulista atinge seu fundo. A partir de junho, os preços passam a variar positivamente, até atingir o pico em outubro.

No entanto, como efeito do aumento do pacote tecnológico aplicado, a dinâmica da sazonalidade vem se alterando nos últimos anos. Considerando a análise dos últimos dez anos, a curva de desvalorização inicia-se em dezembro e vai até junho, quando atinge seu fundo. E a valorização que era mais intensa no mês de outubro, passou a ser mais forte em novembro.

Tabela 1 – Variação mês a mês do preço do boi gordo em SP (%).

Fonte: Cepea/Agrifatto.

 

Ou seja, o boi que tem sido carregado por mais tempo (até junho/julho), devido as melhores condições que surgiram nos últimos anos: pastos com maior suporte, popularização da técnica de suplementação a pasto e uma oferta mais farta de milho para o produtor, já que a safrinha (hoje “safrona”) do cereal se popularizou há menos de 10 anos no Brasil.

O spread (diferença de preços) entre o contrato de outubro/20 e maio/20 tem chamado a atenção do mercado e gerado questionamentos. Ficaria maio abaixo das cotações de outubro? Se parece algo incerto, por que o mercado não reage, precificando o contrato da entressafra para cima? Alto grau de incerteza e volatilidade acima da média respondem essa pergunta. Diante da dificuldade de ler os próximos meses, os agentes precificam os contratos em uma curva achatada ou até mesmo negativa.

É fato que o ágio safra/entressafra tem sido penalizado ao longo dos últimos anos, também por conta da redução dos extremos ocasionada pelo aumento da tecnologia produtiva aplicada à pecuária de corte. Mas até mesmo assim o spread negativo parece exagerado.

 

Fonte: B3/Agrifatto

 

De toda forma, não há cenário distorcido que não possa se distorcer ainda mais. Além disso, com a transferência do fundo da safra para a frente, o que deve estar no radar é o spread outubro/junho.