A delação de Joesley Batista agitou o mercado e agravou ainda mais a crise política em curso, além de atingir em cheio o setor agropecuário.
Fato já conhecido desde maio, o empresário afirmou em seu depoimento que realizava pagamentos mensais aos fiscais de inspeção federal para que atuassem fora da jornada de trabalho e flexibilizassem a aplicação das regras sanitárias. Uma apuração inicial indica que houve pagamento de até R$ 20 mil a mais de 200 fiscais. Batista se comprometeu a entregar os nomes dos fiscais em até 120 dias após a delação e, ainda em seu depoimento, disse que “sempre constituiu prática corrente no mercado de frigoríficos o pagamento mensal de quantias de mil a vinte mil para auditores fiscais federais agropecuários do SIF”, o Sistema de Inspeção Federal.
A princípio ignorado, este trecho específico da delação agora chegou à atenção da grande mídia e se mostra como um risco iminente ao já enfraquecido mercado pecuário.
Caso chegue à atenção dos clientes internacionais a ponto de interromper as exportações de carne bovina temporariamente, o impacto inicial na cadeia produtiva seria relevante. A operação Carne Fraca, por exemplo, deflagrada no final de março deste ano impactou em 21% as exportações de carne bovina no mês subsequente. Veja o gráfico 1.
Gráfico 1.
Evolução do volume exportado de carne bovina e projeções para 2017 em toneladas equivalente carcaça (tec).
Fonte: Agrifatto
* Projeção anterior
** Projeção com a segunda etapa da operação
Com o risco iminente de retaliações por parte dos clientes internacionais, que pode acontecer ou não, tenta-se projetar o possível impacto disso sobre o volume exportado e, consequentemente, sobre os preços pecuários.
A exemplo da Operação Carne Fraca, projeta-se um impacto de 21% sobre o volume de carne exportada em agosto, e a manutenção desse impacto por mais um mês, seguido de recuperação gradual a exemplo do que tem sido visto nos últimos meses.
Assim, estima-se que se não houver mais retaliações – uma vez que a delação de Joesley já é conhecida desde maio e que as medidas de contenção de impacto seriam uma extensão do que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) já vem fazendo para contornar os danos, podemos encerrar 2017 com uma recuperação incrível de 6,3% para o volume de carne embarcada.
Entretanto, se houver mais dano grave à confiança dos clientes internacionais na carne brasileira, estimamos impacto inicial de – 4,5% sobre o resultado total do ano, resultando em crescimento menor de 1,5% em relação ao apurado em 2016.
A imagem da carne bovina brasileira no mercado exterior sofreu fortes desgastes em 2017. Uma possível redução do volume exportado desviaria a produção para o mercado interno, pressionando ainda mais as cotações. Este é um risco que existe e deve ser considerado no planejamento para o segundo semestre.
Um abraço e até a próxima.
Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora da Agrifatto
Leonardo Ribeiro é estagiário da Agrifatto