A agência de classificação de risco Fitch Ratings informou nesta terça-feira ter revisado para “negativa” a perspectiva para a nota de crédito soberano do Brasil, com deterioração econômica e fiscal e ruídos políticos podendo afetar a capacidade do governo de ajustar as contas públicas e de implementar reformas econômicas após a pandemia.
“A revisão da Perspectiva para Negativa reflete a deterioração das perspectivas econômicas e fiscais do Brasil e os riscos negativos de renovada incerteza política, incluindo tensões entre o Executivo e o Congresso, e incerteza sobre a duração e a intensidade da pandemia de coronavírus”, disse a agência em relatório.
A Fitch afirmou que isso inclusive pode restringir uma resposta emergencial “considerável” da política econômica à crise do Covid-19.
A agência avaliou que o Brasil entrou no atual momento de estresse com equilíbrio fiscal “relativamente fraco” e com “baixo” crescimento econômico.
A pandemia e a recessão a ela relacionada vão elevar ainda mais o endividamento público, “erodindo a flexibilidade fiscal e elevando a vulnerabilidade a choques”, segundo a Fitch.
Antes, a agência atribuía perspectiva “estável” para o rating soberano do Brasil. Mas a nota de crédito foi mantida nesta terça-feira em “BB-“ —três níveis abaixo do mínimo para grau de investimento (“BBB-“).
“Os ratings do Brasil são sustentados por sua ampla e diversificada economia, alta renda per capita em relação aos pares e capacidade de absorver choques externos”, ressalvou a agência, citando ainda taxa de câmbio “flexível”, desequilíbrios externos “moderados”, reservas internacionais “robustas” e “profundo” mercado interno de dívida do governo.
A agência prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil retrairá 4% em 2020, antes de crescer 3% em 2021.
Mas a Fitch ponderou que uma recuperação mais rápida em 2021 pode ser dificultada pelas incertezas fiscais, políticas e do lado das reformas no contexto de aumento do endividamento público.
O déficit nominal —que inclui despesas com juros— deverá alcançar 13% do PIB neste ano, nas contas da agência, que estimou dívida bruta de 89,4% do PIB em 2020.
Dentre outras agências, a S&P atribui nota “BB-“ ao Brasil, e a Moody’s classifica o país como “Ba2”.
As três agências cortaram o Brasil para território especulativo entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016, no meio de um processo de forte aumento de dívida e de intensa deterioração nos ativos locais. (Reuters)