Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
Com um cenário conturbado e um futuro nebuloso, indicando ao menos mais 15 dias de quarentena, a situação econômica do país tem se tornado cada vez mais delicada e o Governo Federal iniciou medidas de apoio a economia do país, buscando a sustentação de sua atividade econômica.
Apesar da demanda interna começando a apresentar os primeiros sinais de fraqueza, as principais commodities brasileiras (boi, soja e milho) demonstraram robustez em suas cotações no mercado físico, sustentadas pela oferta restrita, e só começaram a registrar recuos na última quinta-feira (02/abr).
Embora os embarques chineses possam se fortalecer nas próximas semanas, o mercado pecuário deve passar por semanas desafiadoras, não à toa, a B3 já precifica a arroba do boi gordo em R$ 178,65 para maio/20, queda de 6,71% na comparação com a sexta-feira da semana anterior.
- Na tela da B3
Após se recuperar na semana anterior, os contratos futuros voltaram a registrar fortes desvalorizações na última semana. A movimentação fraca no varejo e atacado, indicando uma demanda interna por proteína bovina em queda, foi o que deu o tom das negociações na B3.
O contrato de maio após a atingir o pico de R$ 194,20/@, na segunda-feira, começou o movimento de desvalorização e registrou um recuo de R$ -12,85/@ nos últimos sete dias (R$ 191,50/@), estabelecendo-se em R$ 178,65/@.
Para o contrato outubro a movimentação foi semelhante, com uma queda de R$ -16,80/@ no comparativo semanal, encerrando a sexta-feira em R$ 181,00/@, valor próximo as mínimas já registradas para este contrato.
A movimentação das vendas da proteína bovina no varejo é o que deve ditar os negócios na B3 nas próximas semanas.
- Enquanto isso, no atacado…
No atacado paulista ao longo da última semana, a carne bovina contou com baixo escoamento, com poucas negociações sendo efetivadas e estoques enxutos. Fator de destaque foram compradores solicitando prorrogação dos prazos de pagamento, enquanto indústrias frigoríficas reduzem seu tempo de pagamento.
Neste cenário, a carcaça casada bovina encerrou a semana em queda, sendo negociada na faixa de R$ 12,80 – 13,00/kg – queda acumulada de 4,44% na comparação semanal.
O frango resfriado se manteve praticamente estável, encerrou a primeira semana de abril em R$ 4,32/kg – desaceleração de 1,59% última semana. Na comparação mensal o avanço ficou em 0,69%.
Enquanto isso, as cotações da carcaça especial suína continuam perdendo força, encerrando a semana em R$ 7,39/kg – decréscimo de 13,06% ante a semana anterior, e também queda de 13,67% ante o mesmo período de março.
Segundo as cotações levantadas pelo CEPEA, o spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo) iniciou o mês positivo, encerrando primeira semana de abril em 1,77%.
3. No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura referentes aos 3 (três) primeiros dias úteis de abril/20 contabilizaram um volume total de 12,81 mil toneladas e uma receita de US$ 56,00 milhões.
A média diária registrada ficou em 4,27 mil toneladas, baixa de 25,40% em relação à média de março/20 e desaceleração de 20,63% frente ao desempenho do mesmo período de 2019. O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 4.386,84, queda de 0,54% em relação à média do mês anterior, e baixa de 7,86% quando comparado com o valor médio de abril/19.
Projeções preliminares deste mês apontam para 80 e 85 mil toneladas enviadas até o final de março, um cálculo considerando o histórico dos últimos três meses e uma possível queda dos embarques no último período do mês.
Os envios de soja nos 3 primeiros dias úteis de abril já acumulam 2,48 milhões de toneladas, a média diária está em 850,49 mil toneladas, volume 74,42% maior no comparativo com abr/19.
Com pouca oferta interna de milho, as exportações do cereal foram tímidas nos primeiros dias do mês, atingindo a média diária de 290,4 toneladas, montante 98,25% menor que o registrado no mesmo período do ano passado.
- Grãos e o seu poder de compra
Sustentado por uma oferta restrita, o indicador do milho levantado pelo CEPEA chegou a atingir o maior patamar histórico nominal na última terça-feira (31/mar), no valor de R$ 60,14/sc.
Os olhos dos participantes do mercado se voltam agora para o desenvolvimento da 2ª safra de milho no Brasil, que terá nos meses de abril e maio a definição de boas ou más condições climáticas para a consolidação da safra.
Pela 4ª semana consecutiva, a soja brasileira registra valorização em suas cotações e já é negociado no mercado físico a valores acima de R$ 101,00/sc. Ainda que no mercado norte-americano as desvalorizações sejam consecutivas, o dólar em franca ascensão tem dado espaço para a evolução do preço da oleaginosa no Brasil.
Em Chicago, os contratos para maio/2020 da soja e do milho, registraram quedas semanais de -3,40% e -4,48%, respectivamente. As incertezas sobre o real impacto da Covid-19 na economia norte-americana, a competição com os grãos brasileiros e a aversão ao risco, tem movimentado negativamente as cotações da oleaginosa e do cereal nos EUA.
Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto
- O destaque:
Os números oficiais divulgados no final da última semana pelo Indea – MT (Instituto de Defesa Agropecuária do Mato Grosso) apontam para a redução de 7,9% nos abates de bovinos durante o março/20 ante fev/20, totalizando 380,95 mil cabeças. Neste cenário, o Mato Grosso já demonstra os primeiros sintomas da paralisação de plantas frigoríficas.
A situação se agrava quando é comparado o abate diário entre os meses de mar/20 e fev/20, já que a redução observada neste caso chega a 19%.
Com várias plantas frigoríficas com operações paradas no estado, motivadas pelas incertezas do novo Covid-19 traz para o consumo interno, o mês de abril deve reservar números ainda mais preocupantes.
Enquanto isso no mercado externo, as exportações argentinas de carne bovina para China e UE praticamente cessaram. Os envios para o mercado europeu estão quase nulos, enquanto que para os chineses encontram-se nos mesmos patamares do ano passado. Segundo relatos, os importadores limitaram suas compras e estão extremamente restritos em meio à pandemia.
- E o que está no radar?
Com os avanços do Covid-19 no Brasil, o mercado doméstico de carne bovina começa a andar de lado, em um ambiente onde restaurantes e fast foods perdem espaço para o consumo predominantemente domiciliar. No atacado poucas negociações são registradas e há registro de estoques enxutos.
A maioria dos frigoríficos trabalha com programações de abate encurtadas, principalmente os pequenos e médios que não possuem habilitação para o mercado China, atualmente o mercado que oferece as melhores indicações. A cautela mantém a indústria com pé no freio.
Essa semana traz a expectativa de uma melhora no fluxo de saída de proteína bovina no varejo com a chegada dos salários da população, período sazonal de maior consumo. Entretanto, a Semana Santa e a Páscoa podem barrar essa alta.