Perder o grau de investimento na classificação de risco de crédito é um castigo para qualquer governo, mas o impacto econômico esmagador do coronavírus e, para alguns, a quebra do mercado de petróleo, está colocando pelo menos meia dúzia de países em risco.

A África do Sul, há muito tempo vítima provável, foi rebaixada a “junk” (grau especulativo) pela Moody’s nesta sexta-feira, e agora que o vírus a derrubou, o foco está em quem será o próximo.

Não faltam candidatos.

Recessões profundas e o custo de reforçar os sistemas de assistência médica e resgatar empresas estão levando às alturas os níveis de dívida da Itália à Índia, onde os ratings já estão nos níveis mais baixos do grau de investimento.

O escalpelamento em massa de produtores de petróleo pela S&P Global na semana passada deixou a Colômbia a apenas um nível do grau especulativo e o México, com seu mercado de títulos de 130 bilhões de dólares, a apenas dois cortes.

“Este é um exercício fiscal muito caro”, disse Marshall Stocker, chefe de pesquisa de países do gerente de fundos Eaton Vance, sobre a epidemia. “Em todos os aspectos, isso desafiará os ratings de dívida.”

Tornar-se um “anjo caído” —como o rebaixamento para “junk” é conhecido na linguagem das agências de classificação— pode desencadear uma onda de problemas.

Isso automaticamente exclui os títulos do país de certos índices de investimento de alto perfil, o que significa que os fundos conservadores não podem mais comprá-los e vendê-los. Também pode reduzir o valor dos títulos como garantia nas operações de financiamento de bancos centrais.

Os Credit Default Swaps (CDS), que podem ser usados para garantir problemas de dívida, atualmente prevêem que México, Índia, Indonésia e Colômbia serão rebaixados para grau especulativo, de acordo com um modelo da S&P Capital chamado Market Derived Signal Score.

O modelo também mostra a Itália a um corte de distância, em vez de dois que sua classificação de BBB da S&P representa na verdade, e o grau A- da Arábia Saudita também como a apenas um passo, em vez de quatro.

A Morgan Stanley não espera mais mudanças para o “junk” este ano, mas seu estrategista Simon Waever aponta cortes para grau especulativo nos preços dos mercados de títulos na Colômbia e no México, observando que a antecipação de uma mudança para classificação abaixo do grau de investimento tende a fazer mais danos do que o corte real.

Estima-se que o Brasil tenha visto mais de 20 bilhões de dólares arrancados de seus mercados quando perdeu o grau de investimento em 2015.

“Para o México e a Colômbia, eles (spreads de títulos) já estão precificando esses rebaixamentos”, disse Waever.

DÍVIDA ESTOURADA?
Os analistas europeus da Morgan Stanley também apontaram a Itália como outro risco potencial de rebaixamento se as agências de classificação se tornarem mais cautelosas.

S&P e Fitch têm perspectivas negativas em seus ratings BBB na Itália. A S&P alertou para uma contração econômica de 10% na zona do euro se os bloqueios persistirem, embora também tenha enfatizado a importância para a Itália do apoio à compra de títulos do Banco Central Europeu.

O ex-chefe de ratings soberanos da S&P, Moritz Kraemer, que liderou os rebaixamentos em massa da empresa durante a crise da dívida na zona do euro, apresentou alguns cálculos rigorosos.

A dívida agregada do governo na zona do euro subiu de 65% para 90% do PIB entre 2007 e 2012, e os ratings soberanos caíram em média três graus.

Kraemer vê a dívida da zona do euro superando 100% este ano e a Itália, que foi a mais afetada pela Covid-19 e que também é a maior devedora da Europa, se saindo pior.

“Com o pano de fundo da escala devastadora da tragédia humana e as enormes repercussões econômicas que ameaçam a Itália, o cenário do soberano entrando em um grau especulativo não pode mais ser facilmente descartado.” (Reuters)