Transportadores de boi gordo e de animais de reposição têm enfrentado nas últimas semanas uma redução expressiva na demanda por viagens, diante da incerteza no mercado em decorrência da pandemia do novo coronavírus. A explicação, segundo transportadores, está na diminuição do volume de bois abatidos por frigoríficos em várias regiões do País, por causa da queda no consumo interno e da exportação, e a freada nas compras de animais de reposição por confinadores.

O proprietário da Ferreira Faria Transportes, Eduardo Ferreira Faria, disse que registrou uma queda de 20% no número de animais transportados para abate em frigoríficos desde a semana passada. De acordo com ele, a empresa vinha transportando 500 bois gordos por dia antes do início da crise do novo coronavírus, que derrubou os preços da arroba e levou frigoríficos a reduzirem o abate.

O indicador Esalq/BM&F para o boi gordo, que na quinta-feira (26) ficou em R$ 201,85 a arroba, chegou a cair para R$ 187,40 no dia 18 de março passado.

A Ferreira Faria Transportes, com sede em Araguari (MG), tem 20 carretas, e carrega animais para frigoríficos de Minas Gerais, São Paulo e Goiás, que atuam no mercado doméstico e na exportação

Faria, que também é pecuarista em Marabá (PA), afirmou ainda que não tem feito transporte de animais de reposição nos últimos dias. “Há uns 10 dias, o confinador, fazendeiro que compra bezerro e boi magro, parou de negociar”, relatou. Os preços dos animais de reposição estão elevados e os confinadores aguardam para ter uma melhor sinalização sobre as cotações de venda do boi gordo no futuro.

Embora as escalas dos frigoríficos ainda estejam curtas, Faria disse ter observado sinal de melhora na demanda por transporte de animais para os próximos dias. A razão foi a recuperação nos preços do boi gordo no mercado físico desde quarta-feira (25), o que estimulou o pecuarista a ofertar. Além disso, a perspectiva de que as vendas de carne continuem firmes no mercado doméstico e de retomada das exportações fez frigoríficos voltar às compras.

Mas ele acha que a melhora no cenário é momentânea e pode perdurar até o período de pagamentos de salários no próximo mês, quando normalmente o consumo de carne fica mais firme.

A redução no número de viagens para carregar gado bovino fez a 3 Irmãos Transportes, de Alexânia (GO), dar férias para metade dos motoristas que emprega. Segundo Júlio Roriz, sócio-proprietário da empresa, normalmente são feitas 40 viagens por semana, carregando boi gordo e boi magro. Mas esse número começou a cair desde o dia 10 de março e está em 10 viagens semanais.

A 3 Irmãos transporta animais para dois frigoríficos que atendem o mercado doméstico e para um confinamento em Goiás. O maior volume transportado é de boi magro, segundo Roriz. Ele afirmou que quatro funcionários da empresa estão em férias, com duração de 15 dias desde a ultima segunda-feira. A partir do dia 8 de abril, os outros quatro motoristas entrarão em férias.

O empresário calcula uma queda de 70% em seu faturamento bruto por conta na redução das viagens com gado bovino. Para ele, a retomada das viagens para carregamento de gado magro depende da redução da volatilidade no mercado de boi. (AE)