Neste sábado, 28 de março, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentou o boletim semanal sobre os impactos do coronavírus no agronegócio.
As informações compreendem o período de 23 a 27 de março e estão divididas entre mercado internacional e doméstico. Mostram o cenário em 11 países, mais a União Europeia, grandes importadores de produtos agrícolas brasileiros. Em 2019, o vendas externas do setor renderam ao País US$ 96,9 bilhões, ante uma importação de US$ 13,8 bilhões.
As análises são realizadas por um grupo de monitoramento da crise do Covid-19, criado pela entidade. Lembrando que está à disposição dos produtores o whatsapp (61) 93300 7278, para que o Sistema CNA seja acionado a qualquer momento. Está a postos um grupo de técnicos responsáveis em esclarecer dúvidas.
União Europeia
– Parceiros comerciais da UE relatam problemas enfrentados na apresentação dos certificados sanitários e fitossanitários originais (em papel) nos postos de controle de fronteira (BCPs) da UE. Para evitar dificuldades de entrada de carregamentos na UE, a comissão está recomendando que os países exportadores usuários do sistema TRACES encaminhem os certificados por meio deste;
– Para os países que não utilizam o sistema TRACES (Brasil), os estados membros estão abrindo exceções e permitindo o envio dos certificados originais escaneados, desde que enviados a partir do endereço eletrônico da autoridade competente central e diretamente ao ponto de contato do posto de fronteira ao qual o carregamento correspondente está destinado. Após o período de crise causado pelo Covid-19, os certificados originais (em papel) deverão ser enviados aos postos de fronteira da UE;
– A Alemanha não adotou nem anunciou, até o momento, nenhuma medida oficial que possa afetar o comércio exterior do país de forma geral ou, em particular, com o Brasil. Embora não haja nenhum registro estatístico oficial, a percepção local é de que há um risco mínimo quanto às exportações do agronegócio brasileiro para o país, tendo em conta a preocupação da Alemanha com a segurança alimentar;
– Os Países Baixos têm evitado adotar ações que possam prejudicar seu papel de “hub” logístico e empresarial europeu. No entanto, a redução prevista da atividade econômica poderá prejudicar, mesmo que indiretamente, a atividade de importadores e distribuidores de produtos exportados pelo Brasil para o país;
– Até o presente momento, a França não adotou nenhuma medida oficial que implica na restrição direta e indireta a importações, do Brasil ou de qualquer outro país. Nos últimos 10 dias a população francesa tem buscado adquirir produtos não perecíveis. Como se verifica menor demanda por produtos frescos, é possível que venha a ocorrer diminuição e importação desses itens, a exemplo das frutas;
– Na Itália, o fechamento de restaurantes e bares tem afetado, diretamente, o setor pesqueiro do país, havendo redução drástica na demanda por peixe fresco. Há uma maior demanda por produtos não perecíveis, registrando-se a diminuição na venda de outros bens alimentícios, sobretudo hortaliças e produtos lácteos. De acordo com a Confederação de Produtos Agrícolas da Itália (Copagri), a redução na demanda de produtos frescos já ocasionou, para algumas empresas, a diminuição de quase 90% nos contratos de venda;
– Em Portugal, as providências tomadas não se aplicam, diretamente, a restrições de circulação internacional de mercadorias. Contudo, a inibição da atividade econômica local, terá inevitável impacto sobre a demanda por produtos importados em geral. É provável que esses efeitos se façam notar, nos próximos meses, em função do vencimento de contratos de compra de produtos brasileiros, atualmente em vigor, e da necessidade de renovação;
– Estima-se que na Grécia o fechamento dos bares, restaurantes e cafés deverá ter impacto sobre a demanda local de algumas mercadorias e a redução das atividades de importadores e distribuidores de produtos brasileiros. O café verde, principal item da pauta de exportações brasileiras para a Grécia, poderá ser especialmente afetado caso se confirme a queda do consumo por parte dos torrefadores locais.
Estados Unidos
– O Congresso está analisando um pacote de ajuda que prevê a destinação de US$ 1,2 bilhão para assistência alimentar, incluindo US$ 400 milhões para que o Departamento de Agricultura (USDA) gaste na compra de commodities agrícolas;
– O Departamento de Segurança Interna (DHS) classificou o setor de alimentos como parte da “infraestrutura crítica de saúde”, no qual continuará funcionando sem alterações de jornada. O secretário de Agricultura, Sonny Perdue, fez um pronunciamento assegurando que o sistema de fornecimento de alimentos segue funcionando plenamente;
– No caso da carne suína, a queda na oferta chinesa por conta da gripe suína levou ao aumento de 38,8% nas exportações totais americanas em janeiro de 2020. As exportações para a China cresceram 685,2%;
– Com maior demanda da população na procura por alimentos, tem havido um descompasso entre os preços futuros e os preços no atacado para a carne bovina. O resultado disto foi aumento nos ganhos dos frigoríficos. Para compensar os pecuaristas, grandes frigoríficos ofereceram preços mais altos pelo gado fornecido nas últimas semanas e contratos de longo prazo.
China
– O país pode registrar no primeiro trimestre de 2020, crescimento zero ou negativo (o pior índice em quase 30 anos). Nos últimos dias, o governo chinês tem implementado iniciativas que envolvem estímulo monetário, ampliação dos beneficiários e a aceleração da concessão de empréstimos emergenciais a empresas seriamente atingidas pela crise;
– Dados publicados na última sexta-feira pelo “Ministry of Industry and Information Technology” apontam que, à exceção da província de Hubei (epicentro do Covid-19), mais de 95% das grandes indústrias chinesas e cerca de 80% dos trabalhadores já retomaram suas atividades. Entretanto, estes números estão sendo criticados por mídias especializadas e respeitadas no país;
– Segundo informações oficiais, 60% das pequenas e médias empresas retornaram ao trabalho até o momento;
– A China anunciou redução temporária das tarifas de importação de alguns produtos agrícolas.
Arábia Saudita
– Restrições do governo saudita podem prejudicar as exportações brasileiras de carne de aves para a Arábia Saudita. A população saudita está consumindo mais alimentos comprados em supermercados e parte do volume de carne de aves provenientes do Brasil é direcionada em sua maioria para restaurantes, não possuindo demandas para supermercados.
Austrália
– Os efeitos econômicos da pandemia do Covid-19 indicam a queda na capacidade produtiva (área plantada, tamanho do rebanho) em alguns setores. Dificuldades pontuais de certos setores, como a viticultura e mesmo a pecuária de corte, podem ocasionar oportunidades para produtores brasileiros em alguns mercados.
Tailândia
– Não há, até o momento, nenhuma medida que possa impactar diretamente o comércio de produtos brasileiros exportados para a Tailândia.
Israel
– Importadores israelenses de carne brasileira informaram que não há restrições ou qualquer impedimento à entrada do produto em Israel. No entanto, o abate da carne a ser exportada para Israel deve ser feita na observância dos preceitos judaicos “Kosher”.
Este tipo de abate é supervisionado por equipes israelenses e com as restrições de entrada e saída de pessoas tanto no Brasil como em Israel, especula-se impacto significativo no fluxo de exportação da carne brasileira para o país nos próximos meses.
Catar
– O Ministério do Comércio e Indústria Local anunciou um pacote de estímulo às importações de alimentos por meio da celebração de novos contratos. Foram realizados negócios com catorze empresas, visando aumentar o estoque de alimentos e suprimentos em geral no país.
Reino Unido
– O atual cenário de redução de voos internacionais para o Reino Unido poderá afetar a malha de distribuição de frutas frescas brasileiras. Há igual preocupação nos eventuais atrasos no desembaraço alfandegário em portos, por conta da sobrecarga dos canais de entrada no Reino Unido;
– O fechamento de restaurantes e cafés deverá afetar as exportações brasileiras de café e carnes para o país. Cerca de 70% do faturamento de empresas brasileiras do setor de carnes no Reino Unido está vinculado ao abastecimento de restaurantes e serviços de “catering”;
– Há um aumento de vendas de produtos processados. As compras de carne enlatada aumentaram 60% em comparação ao mesmo mês de 2019. Exportadores brasileiros presentes em Londres indicaram aumento nos pedidos de carne enlatada.
Marrocos
– Não há percepção de redução na atividade de importadores e distribuidores de produtos do agronegócio exportados pelo Brasil ao Marrocos.
Vietnã
– O Vietnã ainda sente os efeitos da Peste Suína Africana, o que tem causado efeitos na inflação. O governo avalia a possibilidade de ampliar as importações, caso os preços não se normalizem, o que pode significar um aumento das exportações brasileiras.
Singapura
– As medidas oficiais para conter o vírus, até o momento, não parecem afetar a entrada de produtos brasileiros. Em razão de ser o país carente de recursos naturais, há dependência de importações para garantir a segurança alimentar da população.
Índia
– A Índia implantou um bloqueio geral no país abrangendo o comércio, indústria e transporte, por um período de 21 dias. Somente estão autorizados a ficar abertos as lojas de alimentos, as indústrias de bens essenciais e algumas outras exceções;
– A redução da atividade industrial pode diminuir a demanda de matérias primas agrícolas que o Brasil exporta para a Índia, assim como a redução do consumo familiar também pode afetar outras commodities. (DBO)