O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, disse que ainda não há motivo para alterar previsões de exportação do complexo soja do Brasil em 2020 em virtude do impacto do coronavírus sobre a economia global, mas ponderou que é preciso ficar atento à situação da Europa. “Estamos fazendo uma consulta aos associados agora para saber se estão percebendo algo. Acho que nessa altura não vai afetar, mas temos que esperar um pouco mais, principalmente por causa da Europa”, disse Nassar ao Broadcast Agro.
Segundo o executivo, as medidas de isolamento nos países europeus podem afetar o volume recebido por portos do continente. “Temos que ficar de olho na Europa, que está enfrentando um processo de isolamento muito grande. O isolamento pode afetar transporte. E, se afetar transporte, pode afetar importações no período de crescimento de casos da doença.” A Europa é grande consumidor do farelo brasileiro. “Se o farelo não puder sair para granjas, uma hora pode encher o porto.” Segundo ele, no caso da China, mesmo no auge da disseminação do vírus não houve impacto sobre as exportações de soja em grão do Brasil para o país asiático.
Nos portos brasileiros, a exportação da oleaginosa transcorre sem percalços apesar da pandemia, segundo o representante. “Os portos estão adotando alguns procedimentos, os terminais vão ter que se adequar também”, disse. Mas, por enquanto, não há nada que afete o fluxo de mercadoria para o exterior. Nassar não acredita em fechamento de instalações portuárias como ocorreu na Argentina. A associação também monitora a situação dos estivadores, que ameaçaram paralisação em Santos, mas o presidente da Abiove destacou que há terminais que utilizam mais ou menos estivadores sindicalizados. “Depende do perfil do terminal. A tendência é que num terminal graneleiro, que é bem automatizado, você tenha menor risco de interrupção no caso de alguma paralisação.”
Para o processamento no Brasil, a associação monitora decisões municipais que possam afetar as operações das esmagadoras. “Por enquanto, temos que cuidar delas caso a caso.” Segundo o presidente da Abiove, a própria associação e empresas estão dialogando com a prefeitura de Rondonópolis (MT) para tentar reverter a determinação de fechamento de indústrias da região. “Temos que mostrar que os produtos das nossas fábricas são essenciais, base para alimentação e biocombustível, e também as ações que as indústrias estão tomando para reduzir o risco de disseminação e contágio entre os colaboradores.” Há ainda relatos de que órgãos de vigilância sanitária municipais intensificaram visitas às fábricas. As empresas estão criando comitês de crise para aplicar os protocolos de segurança exigidos e comprar equipamentos e matérias-primas necessárias para evitar o contágio. Ele destacou também que não houve problemas até o momento na parte de compra de insumos.
Neste momento, o grande ponto de atenção é o escoamento dos produtos pelas estradas. “Tem uma preocupação na parte de movimentação, tanto para mercado interno quanto exportação, que é o problema da dificuldade de caminhoneiros de encontrar restaurantes e postos de parada”, disse. As empresas estão trabalhando na identificação dos locais que permanecem abertos nas diferentes rotas para informar às transportadoras e à Polícia Rodoviária Federal. (AE)