Os maiores portos de exportação de soja e milho do País ampliaram ações para conter o avanço do coronavírus mas garantem que isso não afetará o carregamento de grãos neste período de safra. O funcionamento do Porto de Santos, o maior nessas operações, chegou a ser uma preocupação depois que o Sindicato dos Estivadores da região ameaçou parar atividades para proteger os profissionais. Porém, na quarta-feira a Santos Port Authority (SPA) informou que está trabalhando em conjunto com a comunidade portuária para garantir o pleno funcionamento do porto e que adotou medidas para garantir a segurança dos que trabalham no local. Os estivadores decidirão se paralisam ou não atividades.

No Porto de Paranaguá, as operações seguem normais apesar do reforço nas medidas contra o coronavírus, segundo informou a Portos do Paraná. No Porto de Rio Grande (RS), as restrições em função da disseminação do novo coronavírus incluem, até o momento, protocolos referentes aos funcionários, sem interrupção das operações, segundo o diretor de Qualidade, Saúde, Meio Ambiente e Segurança do porto, Henrique Ilha. Também são normais as operações no Porto do Itaqui, no Maranhão, Estado onde nenhum caso de coronavírus foi registrado até o momento.

Em nota, a SPA reiterou que o Porto de Santos está operacional e que os acessos marítimos e rodoviários estão abertos sem qualquer restrição. Os estivadores decidiram aguardar até a sexta-feira (27) para que o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) se pronuncie sobre as demandas da categoria, disse o presidente do Sindestiva, Rodnei Oliveira da Silva, em uma rede social. Segundo o representante do sindicato, algumas decisões já foram anunciadas, como a continuidade da escalação presencial no Posto de Escalação (P3), o cancelamento temporário do sistema biométrico, álcool em gel em todos os portões e a garantia que todos os métodos de prevenção serão adotados.

Um grupo interdisciplinar foi criado para atuar na prevenção no porto santista, e serão produzidos panfletos informativos e instalados distribuidores de álcool gel em mais de 60 pontos do Porto de Santos, segundo a SPA. Também foi anunciada compra de equipamentos de proteção individual. A autoridade portuária determinou ainda trabalho em casa para empregados que chegam do exterior e grupos de maior risco e suspendeu por tempo indeterminado viagens a trabalho.

Ao Broadcast Agro, a SPA disse que, historicamente, o pico do escoamento de soja em grãos ocorre em março e, citando dados da Supervisão de Acesso Terrestre da empresa, informou que não foi observada diferença significativa no agendamento de caminhões em relação a março do ano passado. A movimentação de cargas no Porto de Santos em fevereiro registrou recorde de 10,6 milhões de toneladas, volume 5,4% superior ao de fevereiro de 2019.

No Porto de Paranaguá, a administração enviou na quarta-feira um comunicado a operadores de mercado. No documento, obtido pelo Broadcast Agro, destaca que “os portos de Paranaguá e Antonina não terão as operações paralisadas e que todas as atividades de carga e descarga, por navios, caminhões, ou trens, serão mantidas normalmente”. A nota foi uma resposta a rumores de interrupção nas atividades portuárias. Em outra nota, divulgada à imprensa, reforça que as operações serão mantidas. “As equipes envolvidas trabalharão em regime de escala, sem prejuízos à movimentação dos produtos”, disse o diretor-presidente da empresa pública, Luiz Fernando Garcia, no comunicado. “Tanto as operações no mar, quanto a descarga por caminhões, seguem normalmente.”

Conforme o porto paranaense, os serviços considerados essenciais deverão manter um mínimo de servidores em sistema de rodízio. Todas as viagens foram suspensas, assim como eventos, treinamentos, reuniões presenciais e simulados de emergência com mais de dez pessoas, segundo a administração. Os funcionários que retornaram de viagens ao exterior em férias ou a trabalho deverão atuar em trabalho remoto, para observação, por no mínimo 14 dias.

Ao Broadcast Agro, Garcia disse que não há risco de a redução da equipe presencial afetar os embarques. Segundo ele, são seis diretorias hoje no porto, e cada diretor vai avaliar quem pode trabalhar remoto e quem não pode, “sempre olhando a operação”. “Hoje nosso porto tem um dos maiores níveis de informatização, são sistemas integrados – para um caminhão entrar na faixa portuária, tem que estar registrado previamente.” Segundo ele, a identificação do caminhoneiro por biometria será abolida por ora, restando a checagem de documentos por um guarda enquanto a carga é pesada. O executivo comentou que o porto ainda não sentiu o efeito da pandemia. “No primeiro bimestre, tivemos queda de 1% no volume movimentado, que não dá um navio – não dá para dizer que foi por causa do coronavírus”, afirmou.

Conforme a Portos do Paraná, no pátio regulador de granel chegaram 2 mil caminhões na segunda-feira passada, pouco abaixo do recorde histórico de 2,2 mil atingido no ano passado. “Para granel, tem programação de navios até maio, e até agora não tem qualquer cancelamento.” Segundo o executivo, na parte de contêineres, o efeito pode ser sentido a partir de abril, já que houve cancelamento de nove escalas devido à redução de operações na China.

No Porto de Rio Grande, a movimentação caiu 15% no primeiro bimestre, de 4,817 mil toneladas nos dois primeiros meses de 2019 para 4,1 mil t agora. Para o diretor de Qualidade, Saúde, Meio Ambiente e Segurança, Henrique Ilha, isso pode ser reflexo do surto, que provocou retração na demanda chinesa por produtos brasileiros, bem como limitou a logística de itens chineses importados pelo País. Entretanto, essa lógica não se aplica à soja, já que as exportações em janeiro e fevereiro foram maiores do que em igual período do ano passado. “Todos os portos estão sendo afetados desde o início do processo, mas os efeitos não foram tão negativos”, afirmou Ilha ao Broadcast Agro, acrescentando que o porto já vinha registrando um desaquecimento para algumas cargas em virtude de questões comerciais entre Estados Unidos e China e em razão da competição com outros portos em relação ao recebimento de contêineres.

A expectativa dos portuários a partir de agora é de que as operações aumentem à medida que a China está entrando em uma nova fase de controle da doença e deve retomar a demanda reprimida dos últimos três meses. Apesar disso, a atenção continua voltada para a expansão da pandemia no Brasil, com a perspectiva de aumento no número de casos nas próximas oito semanas, ressalta Ilha. “Estamos atentos, acompanhando os boletins do Ministério da Saúde para avaliar passo a passo no curto prazo as medidas cabíveis”, diz.

Embora já tenha sido concedida a possibilidade de home office para grande parte dos funcionários de Rio Grande e adotadas medidas de higienização e de prevenção, outra medida foi adotada: a proibição do desembarque de tripulantes estrangeiros na cidade como forma de evitar a circulação e reduzir o contato com quem trabalha no porto. “Estamos nos esforçando ao máximo para manter as operações normalizadas e garantir o abastecimento do País. Não falamos só dos alimentos, mas também de contêineres com materiais hospitalares e medicamentos”, reforça o diretor.

A administração do Porto do Itaqui (MA) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “as operações estão ocorrendo dentro da normalidade das janelas agendadas, sem filas ou atrasos na programação”. Contra o coronavírus, adotou trabalho remoto para grávidas, funcionários com mais de 60 anos e portadores de doenças crônicas, a suspensão do acesso e registro de ponto dos funcionários por biometria, viagens corporativas, eventos internos, participação em cursos e seminários, treinamentos e o programa de visitas. Os serviços de limpeza e higienização foram reforçados com uso de álcool gel em estações de trabalho, maçanetas e prática de portas abertas em todas as dependências, segundo a Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap). (AE)