Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Após uma semana de fortes oscilações no mercado do boi gordo, os últimos dias foram marcados por reação positiva, tanto no spot quanto na B3. A arroba do boi gordo terminou a última semana negociada entre R$ 192 e 200,00 em São Paulo.

As escalas de abate encerraram a semana mais encurtadas, o que pode favorecer a procura por matéria-prima pela indústria e sustentar as cotações no curto prazo.

No atacado, a carcaça casada bovina permaneceu praticamente estável, balizada entre R$ 12,80 a 13,00/kg, mas demonstrando tendência de alta, pois supermercados e açougues podem precisar recompor seus estoques.

Na B3, após dois dias seguidos de limite de baixa, os futuros ganharam força no final da semana, com o contrato para out/20 encerrando em R$ 192,50/@.

 

  1. Na tela da B3

A última semana foi marcada por recuperação dos contratos futuros em bolsa, uma ótima notícia após um cenário de forte turbulência na primeira metade deste mês.

Entre os dias 11 e 18 de março, o contrato para maio/20 caiu 17,85% (uma queda equivalente a R$ 35,60/@), e após atingir a mínima em R$ 161,20/@ o mercado voltou-se para o lado comprador.

Os últimos pregões da semana passada foram então marcados por recuperação, as altas, também expressivas, recuperaram parte da escorregada dos preços em bolsa. As valorizações foram acima de R$ 15,00/@, suficientes para retornarem os preços em R$ 179,50/@ (maio/20).

O fato é que alguns frigoríficos anunciaram paralisação, o que pode diminuir a produção de carne no curtíssimo prazo. Por outro lado, indústrias também devem precisar recompor seus estoques em horizonte próximo.

É este cenário de oferta e demanda mais ajustada no curto prazo, combinado com um físico que continua retendo a oferta, que permitiu as recuperações em bolsa. Mas em prazo mais longo o risco continua, devido ao potencial da demanda interna ficar comprometida com o avanço do Covid-19.

 

  1. Enquanto isso, no atacado…

O mercado atacadista de carne bovina permaneceu praticamente estável nos últimos sete dias. Alguns mercados e açougues demonstram necessidade em repor seus estoques, visto que os consumidores foram as compras com as novas notícias sobre o coronavírus. As negociações do boi casado se mantiveram balizadas entre R$ 12,80 – 13,00/kg.

O frango resfriado continuou firme no mercado atacadista, e encerrou a sexta-feira (20/mar) em R$ 4,35/kg, pequena baixa de 0,80% na semana. Na comparação mensal o avanço ficou em 3,08%.

As cotações da carcaça especial suína subiram e fecharam a semana em R$ 8,83/kg – acréscimo de 1,61% ante a semana anterior e aumento de 9,21% contra o mesmo período em fevereiro.

Segundo as cotações levantadas pelo CEPEA, o spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo) manteve-se positivo, encerrando a terceira semana de março em 0,92%.

 

  1. No mercado externo

As exportações de carne bovina in natura referentes aos 15 (dez) primeiros dias úteis de março/20 contabilizaram um volume total de 87,30 mil toneladas e uma receita de US$ 385,66 milhões.

A média diária da terceira semana registrou-se em 5,82 mil toneladas – queda de 5,26% em relação à média de fevereiro/20, além desaceleração de 6,70% frente ao desempenho do mesmo período de 2019.

O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 4.417,70, baixa de 1,15% em relação à média do mês anterior, e aumento de 18,78% quando comparado com o valor médio de março/19.

Projeções deste mês apontam para intervalo entre 100 e 110 mil toneladas enviadas até o final de março, um cálculo considerando o histórico dos últimos três meses e uma possível queda dos embarques no último período do mês.

Por fim, destaque para as exportações com o milho, o país embarcou 406,29 mil toneladas nos primeiros 15 dias úteis deste mês. O ritmo médio diário ficou em 27,09 mil toneladas, baixa de 21,47% ante a semana anterior, porém avanço de 40,77% frente o desempenho diário no mês anterior, porém, queda de 37,75% contra o mesmo período do ano passado.

 

  1. Grãos e o seu poder de compra

Os futuros em Chicago subiram na última semana, devido a possível interrupção de portos na Argentina e maior expectativa de compras chinesas do produto norte-americano.

O contrato para maio/20 avançou 4,65% ao longo da última semana, encerrando em US$ 8,63/bushel – maior valor em 10 dias.

Os terminais na província de Santa Fé na Argentina devem paralisar suas atividades até o início de abril, com grande potencial de comprometer a oferta mundial de um importante fornecedor de farelo de soja.

Ao mesmo tempo, o desempenho das exportações norte-americanas com soja subiu 71% na média das quatro semanas anteriores, somando 631 mil toneladas e alimentando expectativas positivas de novas compras chinesas.

No mercado doméstico, a combinação envolvendo as valorizações em Chicago e a escalada cambial colocaram as indicações brasileiras nos maiores patamares desde o início de outubro de 2018.

Já o mercado de milho, continuou com um mercado físico travado, o desacordo sobre os preços mantém o mercado spot com baixa liquidez enquanto os estoques reduzidos sustentam as cotações.

Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto

 

  1. O destaque:

O abate de bovinos marcou o terceiro ano consecutivo de alta em 2019, o avanço de 1,23% totalizou 32,44 milhões de cabeça, como apontam as Pesquisas Trimestrais de Abate pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entretanto, os abates no 4°TRI/19 recuaram 1,4% frente ao mesmo período de 2018. Nos últimos três meses de 2019 foram abatidos 8,07 milhões de animais, produzindo 2,04 milhões de toneladas de carcaça – segundo maior volume desde do início da série histórica em 1997, perdendo apenas para 2013 (com 2,20 milhões de toneladas).

Destaca-se ainda a sensível diminuição da participação de fêmeas (vacas e novilhas) sobre os abates totais, passando de 42% para 41% na última temporada.

 

  1. E o que está no radar?

De maneira geral, as indústrias começam esta semana com programações de abate bastante encurtadas, e a necessidade de reposição dos estoques devem manter as negociações no mercado spot ainda sustentadas.

Mas em horizonte mais longo, a pecuária segue sob pressão negativa, já que a disseminação do Coronavírus deve acontecer de maneira cada vez mais acelerada, mantendo a população dentro de casa e impactando o consumo da proteína bovina.

Por fim, incertezas se a disseminação do Covid-19 impactará as operações nos portos brasileiros também adiciona preocupação, já que o comprometimento do escoamento ao mercado externo tem grande potencial de mexer negativamente com as cotações.

 

Um abraço e até a próxima semana!