Por Gustavo Machado – Eng. Agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Setembro trouxe consigo forte restrição de oferta, o que dificultou o preenchimento das programações de abate por parte da indústria. É fato que as referências de preços encontraram gradualmente espaço em patamares mais altos.

E esta semana não foi diferente. Se na segunda-feira (10/09) ainda havia propostas de R$ 148,00/@, agora o predomínio fica em R$ 150,00/@ à vista e já livre de Funrural.

E sim, ainda acredito que haja espaço para reajustes positivos da arroba no curto-prazo.

As exportações também não desapontaram. Pelo contrário, os primeiros dias trouxeram ritmo ainda mais intenso do que o desempenho surpreendente de agosto (falaremos mais sobre os embarques).

Além disso, na semana passada a B3 bem que tentou, mas não foi capaz de superar as principais resistências de preços, com destaque para os 153 de outubro.

Por fim, a chegada dos animais do 2º giro de confinamento pode aliviar o lado da oferta e esfriar em alguma medida o atual movimento de alta, que seria o motivo pelo qual a B3 tem resistido e se assustado com valores mais altos.

O momento é de oportunidades!

  1. Na tela da B3

Desde o início de setembro, o contrato de out/18 tentou superar o nível de R$ 153,00/@ por 6 vezes (!), mas não mostrou a confiança necessária para romper o patamar.

Já o contrato para novembro ampliou o volume de contratos negociados e buscou por preços mais altos, invertendo o ágio do outubro, mas também respeitando suas resistências mais próximas.

Aliás, falando sobre oportunidades de hedge de preços, outubro está com a janela de oportunidades abertas há algumas semanas.

Por exemplo, considerando o físico hoje em SP em R$ 149,90/@ (última referência do CEPEA – 13/set), é possível garantir no final de outubro valor de R$ 151,65/@, um prêmio garantido ao redor de R$ 1,75/@ daqui até o dia 31 de outubro.

  1. Enquanto isso no atacado…

O valor da carcaça casada no atacado também alimenta uma perspectiva positiva para o cenário pecuário de curto-prazo, já que mesmo com o mercado na segunda metade do mês a cotação do boi casado se exibe 3,40% mais alta ante o mesmo período de agosto.

E a sua cotação mais firme colabora para retirar parte da pressão sobre a indústria.

Além disso, o frango resfriado e a carcaça especial suína têm se valorizado desde meados de julho, o que favorece a competição da proteína bovina com seus pares.

O importante é que este cenário se preserve até o final do mês, período em que o consumo relativamente comprometido poderá ameaçar as cotações no atacado. E digo relativamente pois a corrida eleitoral distribui de dinheiro na economia, mesmo com a nova conjuntura de campanha.

Aqui vale uma observação, os dados para a economia brasileira ainda não são animadores. A ociosidade da indústria continua alta, as famílias seguem com dificuldades em liquidar suas dívidas, além do desemprego persistente e informalidade em alta.

Trocando em miúdos, o consumo continuará fraco por enquanto.

  1. Nas gringas

O mercado internacional surpreendeu mais uma vez.

Após um recorde em agosto de 144,40 mil toneladas de carne bovina in natura embarcadas para o exterior, o ritmo neste início de setembro continua acelerado.

E na primeira semana deste mês, a média diária se mostra ainda mais forte que o agosto recorde. Até agora foram enviadas 41,60 mil toneladas, com projeção de 158,12 mil toneladas até o final de setembro (o que configuraria mais um novo recorde).

O desempenho surpreendente para o mercado internacional colabora para enxugar a oferta interna e oferece importante suporte para as cotações domésticas.

Além disso, a necessidade de originar animais para exportação tem ampliado a premiações, o que colabora para referências cada vez mais altas.

  1. O destaque da semana:

O destaque continua por conta do mercado firme em SP, que alcançou R$ 150,00/@ à vista e livre.

Nesta mesma época no ano passado, a referência paulista era 3,50% menor (em torno de R$ 144,00/@ nas mesmas condições).

Combine essa informação com o volume de abates que avançou 4% nos últimos 12 meses, e a conclusão é que a demanda externa foi fundamental para aumentar os abates no período.

O IBGE divulgou que no 2º trimestre, o total de animais abatidos ficou em 7,72 milhões de cabeças. Uma ligeira queda ante os 3 primeiros meses do ano (com 7,73 milhões de cabeças), mas na comparação entre o 2º/tri de 2018 com o mesmo período em 2017, os abates subiram 4% em os preços valorizaram-se 10% em termos nominais.

  1. E o que está no radar…

A última quinzena foi cheia de novidades, com a divulgação de novos relatórios, exportações aquecidas e diferenciais de base estreitando-se em praticamente todos os estados brasileiros – com exceção do MT.

Impressionante são os valores praticados em MG, praticamente similares às cotações paulistas, fato que vem em linha com o comportamento da base em anos de eleição (que nas fronteiras com São Paulo costumam encolher no período).

Para a próxima semana a expectativa é que o mercado continue ajustado, com o preço do animal terminado ainda pressionado para cima, mas já é possível observar algum avanço das escalas, o que tem limitado novas altas no mercado futuro.

É importante lembrar que a sazonalidade das chuvas em 2018 foi clássica, ou seja, não houve chuvas tardias, o que aumentou a necessidade de suplementação na entressafra.

Assim, mesmo com um milho mais caro, foi necessário suplementar para liberar os animais e aliviar as pastagens. Por esse motivo, a Agrifatto projeta um aumento de 5% para o volume de animais confinados, especialmente concentrados no segundo giro e a partir da melhora da troca com o grão, que hoje vive seu melhor momento desde juho/18.

Nesse contexto, os fatores que podem pressionar o mercado a partir da segunda metade de outubro são:

  1. a) Maior oferta de animais confinados de segundo giro;
  2. b) Após as eleições o giro financeiro na economia reduz (campanha eleitoral termina), o que pode acanhar o consumo;
  3. c) Sazonalmente, as exportações atingem seu ápice em outubro. Portanto, podem perder um pouco de força após o período.

A explicação vem em linha com o comportamento dos preços na B3.

Um abraço e até a semana que vem!