Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezenda é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
O mês de nov/21 se iniciou com as escalas de abate mais curtas, a média nacional recuou em relação a semana retrasada e está na casa dos 6 dias úteis. Acompanhando o avanço da carcaça bovina no atacado durante a última semana e a redução na oferta de bovinos confinados, o boi gordo passou por uma recuperação no mercado físico paulista, sendo negociado na média de R$ 263,19/@, alta de 2,15% no comparativo semanal.
Em um momento de apreensão dos invernistas, que não se veem estimulados a comprar grandes lotes para a reposição devido às recentes quedas do boi gordo e com pastagens ainda não 100% recuperadas da seca, a cotação do bezerro recuou fortemente na última semana. Em Mato Grosso do Sul o animal foi vendido na média de R$ 2.630/cab, desvalorizando de 4,99% ante a semana retrasada.
Refletindo a queda em das cotações em Chicago e o recuo da moeda norte-americana para R$ 5,51, a soja no mercado físico brasileiro recuou para a média de R$ 162,72/sc na última semana, uma queda de 4,91%. As expectativas de maior produtividade da soja norte-americana e o clima favorável para as safras da oleaginosa na América do Sul, trouxeram forte desvalorização nos futuros soja em Chicago.
Notícias de que Joe Biden estaria planejando colocar à venda parte da reserva de petróleo dos EUA para controlar os preços da gasolina fizeram com que o petróleo acumulasse queda na última semana. O petróleo WTI encerrou a sexta-feira cotado a US$ 81,34/barril, recuo de 1,66% no comparativo semanal.
1. Na tela da B3
Aquilo que vinha se desenhando finalmente se concretizou, o mercado do boi gordo parece ter definido o “fundo” do poço para a cotação do animal no mercado físico paulista na última semana de out/21. Depois de 11 semanas consecutivas de desvalorização, o preço médio do boi gordo em São Paulo fechou em alta, dessa vez de 2,15%, cotado a R$ 263,19/@.
E com o físico estabelecendo um possível “fundo”, as cotações do boi gordo no mercado futuro embarcaram em uma forte alta. O vencimento para nov/21 encerrou a sexta-feira cotado a R$ 284,50/@, impondo uma valorização semanal de 4,98%. Ao fim do pregão todos os vencimentos para 2022 já estavam sendo negociados acima dos R$ 300,00/@, devolvendo de vez o otimismo ao mercado.
Toda essa movimentação aconteceu sem nenhuma confirmação sobre a volta chinesa (mas novidades positivas sobre as cargas que estão nos portos chineses estão cada vez mais possíveis), a alta se consolidou através da firmeza das vendas de carcaça bovina no atacado e dos preços físicos do boi gordo. Uma nova ordem de precificação se estabeleceu e ditará a movimentação enquanto a China se mantiver ausente.
Com o encerramento do out/21, o volume de contratos em aberto recuou fortemente na primeira semana de nov/21, pouca rolagem foi de fato efetivada. O número de contratos em aberto (futuros + opções) caiu de 103,37 mil para 56,23 mil, recuo de 45,79% no comparativo semanal. Desta forma, houve muita zeragem de posição e não visualizamos a necessidade de destacar nenhuma movimentação de players específicos.
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Depois do terrível vale das sombras que a bovinocultura de corte atravessou durante o mês de out/21, o cenário de preços vai aos poucos se tornando mais otimista para aqueles que ainda aguardavam uma melhora nas cotações.
Conforme já tínhamos destacado, enxergávamos que o boi gordo a última semana de out/21 seria a pior do ano e que a partir de então poderíamos ver uma melhora nas precificações. E, após semanas consecutivas de queda, finalmente a “maré” virou e uma forte alta foi emplacada em todos os vencimentos futuros de boi gordo.
Diante dessa alta, concluímos que a operação especulativa apontada nas últimas duas semanas de compra de futuros para nov/21 possa ser encerrada com a aproximação deste contrato do valor de R$ 290,00/@. O retorno esperado já se concretizou e não visualizamos tanto espaço para a valorização deste vencimento até o encerramento deste.
Para aqueles que buscam hedge para animais que serão entregues entre dez/21 e fev/22, a precificação oferecida pela B3 já voltou a ser bem mais interessante, com referências que partem dos R$ 299,20/@ até os R$ 309,00/@. Ainda que a possibilidade de volta chinesa ressoe sobre o mercado, não há confirmação oficial sobre quando isso pode acontecer, dessa forma, para aqueles que detêm margem positiva com esses valores de venda (acima dos R$ 300,00), a venda de futuros de parte do rebanho a ser abatido nesses meses é uma estratégia interessante para não ficar exposto ao mesmo risco que acometeu o mercado em out/21. A lição deve ser assimilada e aprendida!
Com a alta dos futuros, a compra de PUTs simples também ficou mais atrativa, sendo possível adquirir opções de venda para dez/21 e jan/22 com strike nos R$ 280,00/@ a um custo médio de R$ 3,90/@. Tal operação pode ser interessante para aqueles que detêm margem positiva com esse nível de preço (R$ 280,00/@) e enxergam a possibilidade de retorno chinês que leve o futuro para cima dos R$ 300,00/@ atuais que está sendo negociada na B3.
A entrada em uma nova operação especulativa agora envolveria riscos elevados, mas enxergamos uma boa possibilidade. A compra de futuros de boi gordo para jan/21 nos R$ 305,00-308,00/@. Esta operação especulativa que acreditamos que devolveria retorno positivo conforme o andamento do mercado, no entanto, vale a ressalva de que são operações altamente arriscadas.
2. Enquanto isso, no atacado…
A primeira semana de nov/21 se encerrou com o mercado atacadista de carne bovina em um ritmo mais otimista. A demanda pela proteína bovina aumentou consideravelmente, como era de se esperar, pois a sazonalidade mensal é marcada por um maior volume de dinheiro nas mãos dos consumidores devido ao recebimento dos salários, assim como a primeira parcela do décimo terceiro. Sendo assim, com maior poder aquisitivo, o mercado interno tende a se apresentar aquecido nesta época do ano. Como a oferta estava ajustada para o cenário mais moroso do final de out/21 e a semana foi mais curta devido ao feriado prolongado, a média do comparativo semanal da carcaça casada bovina ainda encerrou a sexta-feira em desvalorização de -1,74%, com a cotação em R$ 17,21/kg, porém, a curva ao final da semana passada já aponta para uma variação positiva nesta semana.
No mercado de frango em São Paulo, mesmo com uma expectativa de melhora no fluxo de vendas devido a demanda aquecida, essas foram consideradas dentro dos padrões. Mas como a carcaça bovina flerta com os menores valores do ano, há uma pressão negativa sobre o frango, que encerrou a semana cotado na média de R$ 7,68/kg, com desvalorização de -1,31% no comparativo semanal.
O mesmo cenário está presente no mercado da proteína suína. As vendas seguiram dentro dos padrões, mas há uma pressão por conta da carne bovina. Há expectativa de um mercado mais aquecido para os próximos dias, pois os preparativos para o final do ano estão se aproximando, momento que cortes como lombo e pernil suíno tem mais saída. Por enquanto, a carcaça especial suína encerrou a semana cotada em R$ 9,36/kg, com desvalorização de -4,14% no comparativo semanal.
De modo geral, neste início de mês de nov/21 já se vê uma melhora no escoamento da proteína bovina para o mercado consumidor interno. A expectativa é de que este movimento de aquecimento se mantenha, sustentado principalmente pelos preparativos das festividades de final do ano.
3. No mercado externo
Com uma média de 5,26 mil toneladas embarcadas diariamente, nov/21 iniciou com as exportações de carne bovina in natura avançando 28,14% sobre a média de out/21. Durante a última semana, um volume de 15,79 mil toneladas de proteína bovina foi embarcado pelo Brasil, 37,21% a menos que no mesmo período de 2020.
A proteína bovina passou por um reajuste negativo em seu preço no mercado internacional, sendo negociada na casa dos US$ 4,96 mil/t, um recuo de 3,81% no comparativo mensal. Até o momento, a receita média diária com as vendas externas ficou em US$ 26,16 milhões, consolidando um montante de US$ 78,50 milhões, 29,13% de queda quando comparado ao mesmo período do ano passado.
As exportações de milho voltaram a ganhar força durante o início do mês e totalizaram 447,19 mil de toneladas despachadas para fora do país, uma média de 149,03 mil t/dia, 65,90% superior ante à média de out/21. O preço médio para a venda externa do cereal ficou em US$ 245,0/t, alta de 12,31% no comparativo semanal. Com isso, um montante de US$ 109,54 milhões foi arrecadado com essas negociações, o equivalente a 12,97% de todo nov/20.
As importações do grão também aceleraram o ritmo na 1ª semana de nov/21 com 122,15 mil toneladas do produto descarregadas nos portos brasileiros, volume equivalente a 58,35% de todo o mês em 2020. O preço médio pago pelo cereal ficou em US$ 248,2/t, valorização de 4,1% no comparativo semanal, totalizando o montante financeiro de US$ 30,31 milhões, 576% a mais que a mesma ocasião no ano passado, onde a tonelada era avaliada em US$ 142,8.
As exportações de soja iniciaram nov/21 em movimento acelerado, na 1ª semana do mês 859,11 mil toneladas saíram do país, volume 3 vezes maior do que o mesmo período no ano passado. Com isso, a média diária de embarque ficou em 286,37 mil t/dia, ritmo superior em 73,79% ante a média de out/21.
O preço médio da oleaginosa nos portos foi de US$ 510,4 mil/t, queda de 2,33% ante a semana anterior. Com uma receita média de US$ 146,15 milhões/dia, as vendas externas totalizaram um montante de US$ 438,45 milhões, esse valor equivale a 82,94% de todo o mês em 2020, quando a tonelada era avaliada em US$ 368,2.
4. O destaque da semana
Apesar das restrições dos embarques para a China terem iniciado em set/21, mês que bateu recorde nas exportações da proteína bovina, os impactos foram confirmados em números pelo MDIC em out/21. Desde abr/18 os chineses despontavam como os maiores importadores de carne bovina in natura do Brasil, porém no último mês essa realidade mudou.
Em out/21, o gigante asiático foi responsável por 8,18 mil toneladas de proteína bovina enviadas pelo Brasil para fora do país, uma queda de 92,70% no comparativo mensal e 90,33% no anual. Cabe a ressalva de que essa carne foi embarcada no mês de out/21, mas provavelmente já havia sido vendida e produzida anterior ao dia 04/09 (data da interrupção das compras e fabricação da proteína bovina brasileira com destino a China). Em números totais, estamos falando de 103 mil toneladas a menos de carne bovina em comparação ao mês anterior.
O volume total exportado pelo Brasil em out/21 recuou 56% no comparativo mensal, atingindo 82,18 mil toneladas, o pior resultado desde jun/18, naquela época o impacto negativo adveio da greve dos caminhoneiros.
Fonte: MDIC; Agrifatto;
No último mês, os chineses deixaram a posição de principais compradores da proteína bovina brasileira e caíram para quarto lugar. Com isso, o Chile passou a ocupar a primeira colocação, importando 13,51 mil toneladas da commodity, um aumento de 13,61% no comparativo mensal. Outro país que aproveitou bem esse vácuo deixado e o momento de preços mais competitivos foi os EUA que aumentaram em 16,76% suas compras, sendo destino de 8,8 mil toneladas da carne bovina in natura brasileira.
Fonte: MDIC/Agrifatto
Ao que tudo indica o governo chinês parece estar focando suas atenções na recuperação da proteína suína. Isso por que o preço da carne suína no atacado chinês já aumentou em 27% desde a mínima em meados de out/21, saindo dos US$ 2,71/kg para US$ 3,45/kg. Ainda que esteja bem abaixo do que foi observado durante os últimos anos, tal patamar já é o maior dos últimos três meses.
Ainda assim, nos últimos dias informações mais “quentes” dão conta de que a China deve aceitar receber as cargas de carne bovina que estão em portos chineses e que saíram durante o mês de set/21 e out/21, e isso aumentaria as chances de que as compras voltem a ser autorizadas pelo gigante asiático. No mais, no quesito retomada das exportações chinesas o que resta agora é aguardar.